quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Compulsão Alimentar












O transtorno da compulsão alimentar periódica é caracterizado por um comportamento de ingestão de grande quantidade de comida em um período de tempo delimitado (até duas horas). Acompanha uma sensação de perda de controle sobre o que ou o quanto se come, com episódios ocorrendo, ao menos, por dois dias na semana, por um período de seis meses, sem comportamentos compensatórios a fim de se perder peso. Geralmente, a pessoa come sozinha, por vergonha da quantidade de alimentos que consome 1. Durante os episódios de compulsão alimentar, o desejo de comer em excesso ocorre de maneira incontrolável. Tanto a comida quanto o peso tornam-se preocupações persistentes do indivíduo 2.

As pessoas que apresentam o transtorno de comer compulsivo têm ataques bulímicos repetidos, mas não evidenciam as medidas patológicas de controle de peso (através de comportamento compensatório) que os pacientes com bulimia nervosa utilizam como vômitos, abuso de laxativos e exercício físico excessivo. Durante a compulsão, o indivíduo sente como se não tivesse nenhuma possibilidade de controlar sua atitude compulsiva alimentar e, após o episódio, refere desconforto psicológico 1. Sentimentos como angústia subjetiva, incluindo vergonha, nojo e/ ou culpa são comuns em pacientes com compulsão alimentar 3. Perfeccionismo, impulsividade e pensamentos dicotômicos de “tudo ou nada” (total controle ou descontrole) também são comuns 4.

A quantidade de alimentos ingeridos, a duração de um episódio de comer compulsivo, ou mesmo o valor da perda de controle sobre a ingestão alimentar são difíceis de se caracterizar 3. Conforme Appolinário 5 (2006), a constituição alimentar dos episódios é extremamente variável, havendo um predomínio de alimentos com alto valor calórico e preferencialmente do grupo dos carboidratos, sendo os alimentos preferidos: doces, tortas, chocolates, bolos e pães. Alguns indivíduos relatam maior vontade de ingerir leite e derivados, acompanhados ou não de chocolates e achocolatados. As calorias ingeridas variam, podendo ser desde quantidades um pouco superiores a ingestão habitual até o extremo de 6.000 kcal/ episódio. A compulsão costuma ocorrer com mais frequência ao final do dia, quando o paciente já cumpriu com todas as suas tarefas diárias 5.

Complicações Clínicas:
A maior complicação da compulsão alimentar na saúde é o desenvolvimento da obesidade. Doenças associadas com a obesidade também são comuns como: diabetes melito, hipertensão arterial sistêmica, colesterol elevado, problemas cardíacos, na vesícula biliar e certos tipos de câncer 1. Além disso, os episódios de compulsão alimentar exercem um impacto importante sobre o metabolismo dos carboidratos. Ocorre um aumento importante na glicemia de jejum no dia seguinte a uma ingestão elevada de alimentos com um aumento maior da resposta à insulina quando comparada a valores obtidos durante três dias de refeições normais, ocasionando um impacto adverso sobre o metabolismo da glicose e insulina, o que justifica a dificuldade dos pacientes com compulsão alimentar em estabelecer um padrão energético adequado 6.

Tratamento Nutricional:
O tratamento do transtorno da compulsão alimentar periódica deve ser multidisciplinar. A orientação nutricional deve centrar-se, primeiramente, para que haja uma diminuição da frequência dos episódios de compulsão alimentar e, posteriormente, focar na perda gradual de peso do indivíduo, quando for o caso, através de uma dieta flexível. A prática de atividade física deve ser incentivada. Os sintomas depressivos devem ser tratados a fim de melhorar a autoestima do paciente e reduzir sua ansiedade 7.

O nutricionista ao atuar no tratamento de transtornos alimentares deve entender amplamente desta desordem, suas complicações psicológicas, médicas e nutricionais. O profissional deve conhecer quais são as populações específicas de risco de desenvolvimento destes distúrbios e quais são os cuidados especiais ao ter de lidar com este tipo de paciente. A American Dietetic Association defende a posição de que a educação e a intervenção nutricional, por parte de um nutricionista é essencial no tratamento dos pacientes com transtornos alimentares 1.

Referências:
1American Dietetic Association. Position of the American Dietetic Association: Nutrition intervention in the treatment of anorexia nervosa, bulimia nervosa, and eating disorders not otherwise specified (EDNOS). J. Am. Diet. Assoc., v. 101, n. 7, p. 810 -819, july. 2001.

2 PAPELBAUM, Marcelo; APPOLINÁRIO, José C. Transtorno da compulsão alimentar periódica e transtorno obsessivo compulsivo: partes de um mesmo espectro? Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 23, n. 1, p. 38 -40, mar. 2001.


3 AZEVEDO, Alexandre P.; SANTOS, Cimâni C.; FONSECA, Dulcineia C. Transtorno da compulsão alimentar periódica. Rev. Psiq. Clin., São Paulo, v. 31, n. 4, p. 170 -172, 2004.

4 STEFANO, Sérgio C.; BORGES, Maria B.F.; CLAUDINO, Angélica M. Transtorno da compulsão alimentar periódica. Psiquiatria na prática médica, v. 33, n. 1. 2000. Disponível em: http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/atu1_07.htm. Acesso em: 25 set. 2009.

5 APPOLINÁRIO, José C. Transtorno do comer compulsivo. In: NUNES, Angélica. Transtornos alimentares e obesidade. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.

6 TAYLOR, Anne E.; HUBBARD, Jane; ANDERSON, Ellen J. Impact of Binge Eating on metabolic and Leptin Dynamics in Normal Young Women. J. Clin. Endocrionol. Metab., v. 84, n.2, 1999.

7 BORGESA, Maria B.F.; JORGEB, Miguel R. Evolução histórica do conceito de compulsão alimentar. Psiquiatria na Prática Médica, São Paulo, v. 33, n. 4, p. 113 -118, out. / dez. 2000.

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